Teias.
Tecer-se
redes
nó a nó
ponto a ponto
trama
riscos.
I
Joga-se
a rede
o que vem?
Peixe príncipe
cavaca, cavala
peixe mulher
Mas na mesma trama,
Tremelga
Moréia
Niquim
Pois nessa rede
veneno
também se (re)colhe
Presa letal
II
Teias.
Tecer-se
redes
Ponto a ponto, nó
a nó a ponto a nó
ponte
entre os homens
Ponte virtual
(vazia),
se enredam
as gentes
na comunicação
(vazia)
e possível
rede, que se quer oráculo
Joga-se
(n)a rede
o que vem?
A música
muda, perdida
no silogismo do silêncio
Ou sonata
que ecoa
nos quatro ventos
O texto
rarefeito
dos que não ouviram
O ruiseñor de Borges,
esse texto preciso
precário território,
Dos anônimos
dos esquecidos
que na rede se lançam
À própria pesca.
Ou o texto
indelével lágrima
tatuada no tempo
na alma dos homens.
Ou a ilusão de fama
que também à trama
se prende
dor e soberba
Joga-se
(n)a rede
o que vem?
A morte da intimidade
colhe-se a si próprio
expondo ao mundo
vísceras, sombras
Segredos
Recolhe-se a rede
por vezes vem plena
a palavra certa encontrada
Recolhe-se a rede
por vezes vem vazia
tramas de ignorância
A pesca equívoca
peixes falsos,
falsa colheita
Lança-se a rede
(re)colhe-se
cavalos marinhos
ocos - Tróia de nós mesmos -
Irrompem nos imaginários muros
onde nos refugiamos de noite
Nos observam
monitoram
e vendem-nos
Nos Pelourinhos virtuais
invisível mercado das gentes,
presas somos dos cadastros,
“perfis”, esfinges sem segredo
Joga-se
(n)a rede
Tentando fisgar Dionísio
O que vem?
O sexo sem corpo
bovariano,
“tristeza de apetite sem amor”
(obrigado Macedônio)
Nessa rede
o veneno também destila
e se (re)colhe
quase letal
III
Teias.
Tecer-se
redes
ponto a ponto
se enreda o nó
(e que nós!)
de outras tramas
Joga-se a rede vã
tecido trauma
que forma o núcleo do clã
(e a fortuna dos analistas)
Joga-se a rede
o que vemos?
O que vem nessa rede?
Quando é rico
o pesqueiro
colhemos sim o rosto amado
E o gesto súbito de um filho
vindo do mar aminiótico
Tê-lo então sobre o corpo
pele, é lançar-se ao mar, Harad
que seduz e derrota o Leviatã
É aprender a enfrentar o mar
mundo revolto. Filho, mar absoluto,
peles, rede que não se desfaz
jamais. Teia delicada: força
motriz – o amor –
essa força
capaz de demolir
regras
sem que se instale o caos
Joga-se a rede
– o que vem?
(e não deveria)
Na mesma trama
tantos outros peixes
vêm, refugos do oceano
das culpas
cunhados
ressentimento fraterno
partido amor materno...
...Melhor colher-se em e o silêncio
a falar desses peixes, parentela
que em pretensa festa me cerca
e devora – é enredar-me em labirintos
Nessa rede pressinto
perigos e peixes
venenosíssimos
sem soro que os cure
o choro contido no escuro.
Não quero esses peixes,
nem quero esses mares
Melhor recolher a rede
em e no silêncio,
qualquer palavra esgarça a trama
qualquer gesto germina-se drama
Na rede o veneno
também se destila
eclode o trauma.
Ceia letal.
IV
Teias
tecer-se
redes
nó a nó
ponto a ponto
trama
riscos.
Falei de redes
falei de peixes
Colheitas plenas
madrugadas estelares
Redes vazias ou venenos
vindos no vento doente
Vento oeste, vento terral
Peixe nenhum, vento letal
Três redes tecidos tramas
nas diferenças, em tudo iguais
Todas três
vitais
se em consonância com o vento
Todas três
letais
se perigosa a roca do tempo.
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