terça-feira, 17 de abril de 2012

REDES

Teias.
Tecer-se
redes


nó a nó
ponto a ponto
trama
riscos.


I


Joga-se
a rede
o que vem?


Peixe príncipe
cavaca, cavala
peixe mulher


Mas na mesma trama,
Tremelga
Moréia
Niquim


Pois nessa rede
veneno
também se (re)colhe


Presa letal


II


Teias.
Tecer-se
redes


Ponto a ponto, nó
a nó a ponto a nó
ponte
entre os homens


Ponte virtual
(vazia),
se enredam
as gentes


na comunicação
(vazia)
e possível
rede, que se quer oráculo


Joga-se
(n)a rede
o que vem?


A música
muda, perdida
no silogismo do silêncio


Ou sonata
que ecoa
nos quatro ventos


O texto
rarefeito
dos que não ouviram


O ruiseñor de Borges,
esse texto preciso
precário território,


Dos anônimos
dos esquecidos
que na rede se lançam


À própria pesca.


Ou o texto
indelével lágrima
tatuada no tempo


na alma dos homens.
Ou a ilusão de fama


que também à trama
se prende
dor e soberba


Joga-se
(n)a rede
o que vem?


A morte da intimidade
colhe-se a si próprio
expondo ao mundo
vísceras, sombras


Segredos


Recolhe-se a rede
por vezes vem plena
a palavra certa encontrada


Recolhe-se a rede
por vezes vem vazia
tramas de ignorância


A pesca equívoca
peixes falsos,
falsa colheita


Lança-se a rede
(re)colhe-se
cavalos marinhos
ocos - Tróia de nós mesmos -


Irrompem nos imaginários muros
onde nos refugiamos de noite


Nos observam
monitoram
e vendem-nos


Nos Pelourinhos virtuais
invisível mercado das gentes,
presas somos dos cadastros,
“perfis”, esfinges sem segredo


Joga-se
(n)a rede
Tentando fisgar Dionísio


O que vem?
O sexo sem corpo
bovariano,
“tristeza de apetite sem amor”


(obrigado Macedônio)


Nessa rede
o veneno também destila
e se (re)colhe


quase letal


III


Teias.
Tecer-se
redes


ponto a ponto
se enreda o nó
(e que nós!)
de outras tramas


Joga-se a rede vã
tecido trauma
que forma o núcleo do clã
(e a fortuna dos analistas)


Joga-se a rede
o que vemos?
O que vem nessa rede?


Quando é rico
o pesqueiro
colhemos sim o rosto amado


E o gesto súbito de um filho
vindo do mar aminiótico


Tê-lo então sobre o corpo
pele, é lançar-se ao mar, Harad
que seduz e derrota o Leviatã


É aprender a enfrentar o mar
mundo revolto. Filho, mar absoluto,
peles, rede que não se desfaz


jamais. Teia delicada: força
motriz – o amor –
essa força


capaz de demolir
regras
sem que se instale o caos


Joga-se a rede
– o que vem?
(e não deveria)


Na mesma trama
tantos outros peixes
vêm, refugos do oceano


das culpas
cunhados
ressentimento fraterno
partido amor materno...


...Melhor colher-se em e o silêncio
a falar desses peixes, parentela
que em pretensa festa me cerca
e devora – é enredar-me em labirintos


Nessa rede pressinto
perigos e peixes
venenosíssimos
sem soro que os cure


o choro contido no escuro.
Não quero esses peixes,
nem quero esses mares


Melhor recolher a rede
em e no silêncio,
qualquer palavra esgarça a trama
qualquer gesto germina-se drama


Na rede o veneno
também se destila
eclode o trauma.


Ceia letal.


IV


Teias
tecer-se
redes


nó a nó
ponto a ponto
trama
riscos.


Falei de redes
falei de peixes


Colheitas plenas
madrugadas estelares


Redes vazias ou venenos
vindos no vento doente


Vento oeste, vento terral
Peixe nenhum, vento letal


Três redes tecidos tramas
nas diferenças, em tudo iguais


Todas três
vitais


se em consonância com o vento


Todas três
letais


se perigosa a roca do tempo.
.
.
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