domingo, 30 de agosto de 2020

DOZE MINUTOS E TRINTA E OITO SEGUNDOS


São cento e quatorze mil setecentos e setenta e dois mortos.

Segunda-feira, dia 24 de agosto de 2020, cinco da manhã.
O sol não é como ele, a essa hora já acordado e os olhos
abertos de dor e medo. Levanta-se, vai ao banheiro, vê-se
no espelho apalpa o rosto amarrotado de tempo e de sono.
Ainda está vivo, certifica-se. Com cuidado, degrau a degrau
desce as escadas. Vai até à cozinha. Tem sede, muita sede.
Novamente sobe as escadas e passa pelo mesmo banheiro
olha-se no mesmo espelho de há pouco há séculos rachado,
novamente apalpa o rosto para certificar-se. Do que mesmo?
Volta ao quarto pelo mesmo corredor, deprimido se deita, ele
sua solidão e o relógio que nunca se cansa: são cinco e doze.

São cento e quatorze mil setecentos e oitenta e cinco mortos.










Excerto do livro “A DEMÊNCIA DO TEMPO (Poesia para não enlouquecer ou manual de sobrevivência- um diário poético da quarentena sob o signo de um Poder demente)” – em andamento

Nenhum comentário:

Postar um comentário