PÚRPURO OUTONO
Tal si dilegua, e tale
Lascia l'età mortale
La giovinezza. In fuga
Van l'ombre e le sembianze
Dei dilettosi inganni; e vengon meno
Le lontane speranze,
Ove s'appoggia la mortal natura
Canto XXXIII - IL TRAMONTO DELLA LUNA
Giacomo Leopardi (1798 – 1837)
Assim se
acaba, e assim
Nos deixa a
idade mortal
A juventude.
Fogem
As sombras e
as imagens
Dos amados
enganos, apodrecem
As esperanças
perdidas
Onde se apoia
a natureza humana
Canto XXXIII - O Pôr-da-Lua
Giacomo
Leopardi (1798 – 1837)
Tradução Lúcio Autran
Há crueldade nas músicas
quando desfalecem ecos
e repetem no tempo o tempo perdido em nós
Mais cruel dos
fenômenos,
fusão de sentido e
espaço,
o eco destroça em
azul o que não somos.
Há crueldade nessa
música:
Janis, Jimmy, Morrison,
dead
Gratefull Dead, as
portas se fecharam
Numa nada grandiosa
morte meio ao
vômito. Vítimas
de um naufrágio anunciado,
náufragos,
Ainda assim
insistíamos
em limpar do rosto
blood
sweat and tears, vômito
e desilusão;
Rios de neurônios perdidos
corredeiras,
tragédias domésticas
lisérgicas
cataratas e finalmente o encontro
com a morte: enforcado
na gravata
do pai, (in)voluntário
símbolo, suicídio
e escândalo que
jamais nos sairão da memória
Éramos a perversão
do sublime
a submissão ao
trágico: vinte e sete
picadas numa
noite, vinte e sete, meio à lama, terra e dor,
meio ao excremento
da vida
Vinte e sete, cabala
que gravaria
nos olhos o medo e
o horror das veias supuradas,
Rostos supurados,
sutura
das esperanças
surrupiadas.
Éramos então quase
crianças, vinte e sete!
Vinte e sete furos
vinte e sete
marcas de sangue
riscando a fogo as
faces entorpecidas dos paraísos
Vi, eram falsas as
portas, tentei correr
as saídas se fecharam
uma a uma
aprendizado do silêncio
e do medo, palavras
paralisadas no ar.
Um ano
em silêncio, um
ano calei-me, de medo,
de dor e angústia:
See me, feel me, touch... mudez
Ou paranoia, que
sei?
Sei que nunca mais
me abandonariam.
(Há crueldade nessas
músicas, ainda assim as ouço).
Vinte e sete. Depois,
o tiro nos tímpanos,
não, não, outro
amigo, não! Desesperado,
vi morrer uma geração
coloridamente suicida
Como sofremos, a
geração da euforia!
Sofremos a
apostasia da vida, fomos
em direção a uma
utopia, mas logo retornaríamos
sem fé, coragem ou
utopia, sem força
para nada que não
fosse ilusório. Era tarde,
o que restou de
nós, além “dos amados enganos”?
Além de uma vã esperança,
e mais que a
esperança restou
sua nostalgia, restou
essa vaga saudade do futuro
O que fizeram ou
fizemos
das nossas
utopias? Descobrimos
demasiadamente tarde
talvez, que toda utopia
é impossível, ou
não seria utopia.
Eu estava longe e
eu estava perto
eles estavam no
centro do mundo, e continuam
e eu no cu do hemisfério
sul
(e continuo) mas
me sentia no centro
enquanto ouvia
atrofiarem-se destinos e cérebros
Onde estão? Onde
estão?
Preciso
urgentemente encontrar
meus mortos,
contar-lhes desse patético fim
Não veio nada do
que esperávamos,
o amor, a paz
muito menos, que fim
melancólico! Vocês
se foram, retornariam?
Não, sei que a uma
única via,
uma só,
conduziriam vinte e sete
picadas.
Tranquilizem-se amigos, não os chamarei
Nós, que por aqui ficamos,
não revelaremos
nossa decepção
e o mundo
acreditará em nós, que em nada mais acreditamos
Eu era o centro e
o lado, o fora
e o dentro, e
infelizmente também
o avesso. Rios de
neurônios se indo, se perdendo
com meus amigos
morrendo
e a vida,
infelizmente, vindo
vindo, como veio,
com terror, rugas e realidade
Com a constatação
que eu estava fora
porém estando
fora, estava dentro
dentro, eu era periférica
e perigosamente no centro
Eu, que então sabia
estar longe,
louco, insistia
que um choro de flauta
podia ser tão
lisérgico quanto um solo de guitarra
Eu estava errado e
estava certo
mas longe ou perto
eu vi o tempo
esse velho cruel,
enfim, me mostrar suas garras
Depois agora é
silêncio,
esses ecos, essa
música que sequer
sei se gosto, mas que
rescende ao tempo renascido
Numa manhã interiorana
que insiste
em ser aurora e em
nascer vermelha,
e azul e desazul e
desigual e desnascer-se noite
Povoando de silêncio
este dia
que mal se
anuncia, já se veste
de drama e poesia.
Há neste silêncio um eco
Um eco cruel e
covardemente perene
que nada extingue,
antes renasce
em manhãs que
insistem em nascer-se futuro
São antes mantras
que manhãs:
nada existe senão o
eco dessa música
que se repetirá, até
um dia, quando silenciaremos.
A RECONSTRUÇÃO DA RAPINA
(A Velhice da Águia)
Decidido está:voltarei a correr todos os riscos, e a percorrer
De novo toda Tróia e de novo lançarei minha vida aos
perigos.
Eneida - Virgílio -
Canto II - 750
Bico o cume das
pedras
tentando recuperar
as palavras
não ditas. Meu
bico dilacerado
devorará ainda aves
e versos
Minhas presas dilacero
reaprenderão nas
feridas o fio
das garras cegas de
cansaço,
talvez se
recomponham e firam outra vez
Arranco minhas
penas
pássaro sem plumas
e sem vôo,
momentaneamente
rastejo, o tempo,
pior rapina que
eu, me concederá outro vôo:
Ou reconquisto o
azul que tive, cismo
ou me projeto para
sempre no abismo!
MANHÃ
Respira em azul
este sol que te cega
nega o pântano que
te paralisa, seca,
que a safra da
vida é única, vai, e sega.
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